domingo, 13 de junho de 2010

Contos de uma terra tão tão distante

Dentre tantas aventuras já vividas, eles pararam e resolveram procurar a felicidade.

Criaram metas, estratégias, foram coerentes, caminharam com cautela e observação. Foram espertos, fizeram escolhas. Nem todas certas, mas com certeza todas válidas. Tornaram-se experientes, aquela experiência ignorante de quem não sabe mesmo o que vai vir.

Chegaram a conclusões. Definiram objetivos. Olharam o mundo com cautela e interpretaram os sinais que o mundo dava. Souberam ouvir. Aprenderam a entender.

Aliás, aprenderam várias coisas perdidas pelo caminho. Coisas que podiam ou não ser importantes, mas aprenderam. Não! Não aprenderam, dessecaram o conhecimento dessas coisas. Conheceram o que não deviam, até demais. Espantaram a magia dessas coisas que se tornaram tão simples e tão chatas.

Mas a busca ainda continuava e eles ainda não encontraram o que estavam procurando. Percorreram selvas. Esconderam-se em cavernas. Olharam em cada canto e não acharam. Pareceu que a felicidade estava a cada dia mais distante.

E os dias passaram. E as flores secaram. O vento frio chegou e ressecou os lábios. As semanas pareceram mais cinzetas e eles começaram a se esquecer. E o esquecimento levou embora as lembranças quentes do pouco de humanidade que ainda havia.

Era inverno e todos podiam ver. Ela andava pela rua, com roupas da estação, toda bela. Carregava livros, papéis, anotações tudo numa bolsa pequena. Seu rosto não dizia nada. Nem um sorriso, nem um abraço. Nem mesmo algo de ruim. Era um reflexo do nada que sua busca resultou.

Os outros? Não se soube. A procura fora tão intensa que nada sobrara. Nem pensamentos. Nem anotações velhas na agenda. Nem números de telefones em guardanapos usados. Nem fotografias maltradas e nem lembranças remotas. Um grande e triste vazio.

Talvez nem triste. Apenas vazio. Imensamente vazio.

Morreram, enfim.

Ela com seu casaco vermelho. Todos os outros com suas coisinhas que nunca mais foram lembradas. Ninguém chegou lá. Ninguém foi notado ou reconhecido pelo menos como um estranho qualquer. Ninguém soube o que era a tal procurada felicidade.

Apenas uma menininha. Uma menininha que a olhava passar com seus livros e papéis, toda bela. Apenas a única menininha que viu que a moça dexou cair uma flor que, por ironia do clima, caiu em seu cabelo e a deixava ainda mais bela.

A menina viu a flor cair. Correu para devolver a moça. Ela estava tão apressada que não viu a menininha. A menina colocou a flor em seus cabelos e sentiu-se a mais linda menininha de todo o universo.

E foi só felicidade. Sem procura. Sem caminhos.

Felicidade, e só.