sábado, 31 de maio de 2025

A Hora Mais Escura do Dia


Hoje me dei conta dos meus lutos, o quão profundos e compartilhados eles são.
 

Recentemente eu perdi muita coisa, mesmo. Muita gente. Muitos presentes que se esvaziaram com a rapidez de um suspiro. No entanto, me tomou tempo entender que a perda não foi só do óbvio e visível ao ponto da gente conseguir falar sobre essas coisas.


Precisei de muitos dias e meses (talvez anos) pra conseguir começar a entender que o que eu perdi foi a realidade dos sonhos, porque a geração Disney não chegou onde era prometido que a gente ia chegar. E lutamos tanto por isso... Nos esforçamos tanto... Estudamos, trabalhamos, deixamos toda a sensação do sol na pele pelos escritórios com ar controlado e café expresso (que tinham contado pra gente que era coisa cara). Viajar a cargo da empresa, vestir a camisa e deixar a vida pequena do interior.


Escrevo ao som de Summer EletroHits e sinto uma dor que quase toma forma. Tínhamos energia, vida, sentimento e sensação. Fomos criados para fazer tudo. Era só batalhar pelos nossos sonhos que tudo ia ficar bem. Éramos potência, força. Repito, fomos feitos para REALIZAR. 


Há poucas semanas eu disse pra alguém da minha família que estou na minha melhor fase da vida. E não é mentira ou exagero. Só que poucos dias atrás fui atravessada de tantas formas por tantas perdas que meu corpo chorou, pediu asilo. Espero que ele ainda esteja disposto a conviver comigo, sem pedir exílio...


As perdas? Um sem fim de tudo que minha geração começa a denunciar rouca, porque já não existe a voz saudável para as eloquências que gastamos outrora. É difícil entender o tempo que sobrou, porque tudo diz que somos flores secas. As horas são curtas demais pra juntar o afeto criado na rotina das amizades com todas as tarefas dispostas, ininterruptamente, na palma das mãos. Por falta de uso, os joelhos não conseguem caminhar longas distâncias sem sofrer. Os olhos veem menos e, quando olham, procuram luzes mais e mais fortes. 


Com medo de nos aprisionar com filhos, nos apegamos a tudo que não nos entrega nada além do sentimento de insuficiência, culpa e angústia. Sempre uma urgência, sempre com pressa. O que aconteceu com a gente? Onde foi que nos perdemos?


Confesso que minha melhor época vem com essa dor de perder a juventude. Percebo que é fácil pra gente perder o brilho nos olhos porque perdemos a fé. Sim, a fé da vó que rezava quando ficávamos doentes. Que fazia bolinhos de chuva para esquentar nosso coração, sempre deixando raspar o bote com resto de massa. Que sempre teve orgulho do tempo que me faltava porque "ela está ocupada, trabalhando", falando em voz alta e peito estufado. 


Não aprendi tantas coisas que queria ter aprendido com quem já se foi e hoje tenho medo de que posso ter perdido a chance de aprender ainda mais com quem ainda não veio. E me vem uma fúria tão injustamente grande… Paraliza ao ponto de faltar ar.


Falo sobre perdas e dores, mas nunca estive com tanta clareza do lugar que ocupo e percebo que esse entendimento vai aumentar muito mais em um futuro singularmente próximo. É confuso viver hoje uma parte de mim em um sonho que achei impossível (e por mais clichê que seja, estou, sim, falando de amor) e um outro pedaço que grita "você chegou aqui tarde demais". Chego a alucinar sobre minha falta de direito a esse amor que me faz tanto e tão bem. 


Não sei se tudo isso é parte de crescer, se ainda há tempo pra corrigir a rota e retomar aquela energia que existia quando começava a tocar Summer Jam. Cresci o suficiente pra ter certeza de que não fazemos a mínima ideia real do que estamos fazendo aqui, sigo tendo muito mais perguntas do que respostas.


Volto a escrever porque preciso aterrar em algum lugar minimamente material, tangível, conhecido e que exija mais de 2 minutos pra ser entendido. Quero reaprender o que é urgência. Redescobrir como falar sobre o que eu sinto e como o ambiente me toca, me acarinha ou me fere. Voltar àquela ansiedade do que iria acontecer (o aniversário, o sábado na praça, a ligação telefônica), não pelo que é estimulado incansavelmente e nunca acontece. 


Nesse processo de reencontro com as palavras, quem sabe eu volte a orar e reencontre no meio do caminho a minha fé. Àquela que me fez chegar aos lugares que eu tanto sonhei, que encurtava distâncias, movia montanhas. Recriar a lista da vida é emergencial. Exige coragem, mas precisa acontecer. 


Não é verdade que era tudo sobre a gente.

Está escuro, mas o sol já vem. 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

Sobre Porcelanas

Nunca acreditei nessa coisa de colar peças de porcelana. 

Quando criança tive algumas bonecas, alguns cenários que deveriam ter sido moda lá pelos anos 90 ou 2000. Sempre dividi quarto com minhas irmãs, mas conquistei um espaço só meu na parede, onde tinha uma prateleira só minha, com minhas lembrancinhas de uma vida ainda curta e cheia de pequenas histórias. Lá estavam rigidamente expostas as coisas mais valiosas da minha existência, objetos que eu cuidava com carinho e disciplina todas as semanas. Pó retirado, roupinhas engomadas, cabelinhos arrumados. Peça por peça. 

Claro que a rotina não poderia ser mais instável do que uma casa (naquela época!) com 5 crianças e, naturalmente, desgraças eventualmente aconteciam no meu templo dedicado à beleza. Além de eventuais intervenções secretas de mãozinhas ainda menores que as minhas, às vezes a fragilidade e a rigidez se chocavam e minhas peças se transformavam em pedaços. Lavadas por lágrimas e olhos vermelhos, a solução era submeter as vítimas aos procedimentos de emergência da cirurgiã chefe, minha mãe. 

De uma habilidade assustadora, tive muitas recuperações que não eram notadas. Colagens precisas e sem resíduos, verdadeiras obras de restauração digna de afrescos. Confesso dizer que ainda hoje tenho uma dessas decorações submetidas a colagem e que guardo para quando eu voltar. É uma pequena caixinha de joias com uma fada linda sobre algo como um monte verde. O crime: a ponta de sua asa se partiu uma vez. Deve ter algo próximo aos seus 20 anos sob meus cuidados, acredito eu, porém que nem sempre foram assim tão cuidadosos. 

Gostaria de dizer que esses casos foram sempre bem sucedidos e que depois de um conserto a vida seguia normalmente. Só que a mente não dá refrescos e constantemente eu olhava minhas bonecas e encontrava suas cicatrizes, mesmo que invisíveis, gritando pra mim o quanto fui displicente, relapsa e incapaz de garantir o básico: segurança. 
Doía ver meu fracasso. 
Doía perceber que por mais que eu me esforçasse, não dava para esquecer que aconteceu.

Ainda assim, segui apaixonada e insistente em possuir esses artefatos, mesmo quando começaram a sair das prateleiras das lojinhas de presente e meus olhos começaram a se interessar por outros tipos de enfeites. Segui com poucos mas significativos objetos e ao longo do tempo criei orgulho de tê-los comigo, sustentando suas reparações invisíveis, me lembrando sempre de onde eu vim e me fazendo valorizar o que aprendi no caminho. Em alguma idade, inclusive, me tornei uma razoável restauradora e alcancei o nível da professora. O que me fez dedicar tanto àquela arte foi saber que as coisas que eu tinha não poderiam nunca ser substituídas, seja porque saíram do mercado, seja porque não contariam parte da minha trajetória. 

Naquela altura, deixei de acreditar que simplesmente colar as peças de porcelana fazia sentido. O que eu estava fazendo não era corrigir nada, mas colocar ali algo de mim, que não seria necessariamente imperceptível ou de todo belo, mas que trazia consigo a beleza de crescer. Então o que eu entendi é que, mais do que tentar recuperar qualquer passado, eu estava construindo futuros. Logo, não colava peças de porcelana, eu criava novas histórias.  

Hoje eu gosto da ideia pensar que posso dizer "não às minhas cicatrizes" e que posso sim ignorar a existência de correções como consegui em poucos momentos com minhas decorações. No entanto, a verdade é que eu continuo sabendo que elas se partiram alguma(s) vez(es) e que não há nada que possa mudar o que de fato aconteceu. O que mudou é que, para as que ainda me acompanham de alguma forma, eu sigo encontrando a magia das fadas, bosques e campos justamente porque depois de tanto tempo continuam comigo. São novas flores, mas continuam flores. 

Começar é bom, mas nunca vou abrir mão da esperança e da magia que sinto toda vez que amadureço o olhar sobre mesmas paisagens. 
Sigo agradecendo àqueles que me mostram que é possível, em conjunto, fazer grandes obras.

RECOMEÇOS

 


Poderia fazer qualquer apanhado de palavras pra ressurgir como fênix, seguindo pela inspiração que é o início do ano e suas reflexões propositais. Prefiro simplesmente dizer que nos últimos nove anos senti falta de um lugar para amanhecer minhas palavras muitas vezes sem sentido. 

Estou de volta. 
E é só isso.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

...

Parece cocaína.
Mas é só tristeza.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Running

Maybe it's time to come back.


segunda-feira, 20 de maio de 2013

конец

Done.

Talvez o segredo não seja insistir em tentar ser certo. Só deixar a vida acontecer sem verdades ou mentiras demais. Clareza dói. Então é hora de parar e reinventar um novo começo, já que pensar no fim foi suficiente para Elena, e só.

E é assim que eu sumo.

Um flagelo simples de uma luz que foi um dia. Um rascunho inacabado de alguém que foi feliz e soube. E que pintou as ruas com as cores todas que haviam. E que puxou músicas. E que chamou pra dançar. E que acreditou. E que criou. E que quis, simplesmente quis muito tudo, o mundo. E que repetiu conjuntos de palavras por acha-las belas. E que, por mais que o fizesse tanto, não quis doer.
Não quis doer.
Não.
Não quis.



(Listening: Dustin O'Halloran - Opus 37)

sábado, 18 de maio de 2013

...

I've stopped at a time that has never existed.
Where are the flowers? Where is the nice view? I miss so much. I'm just waiting.

It's just not for me.

This world is not for me.


(Listening: Beirut - Candle's Fire)